segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Pagu - Rita Lee - Zélia Duncan




Mexo remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira
Sabe o que é ser carvão

Eu sou pau pra toda obra
Deus da asas à minha cobra
Minha força não é bruta
Não sou freira nem sou puta

Nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito "home"

Sou a rainha do meu tanque
Sou Pagú indignada no palanque
Fama de porralouca, tudo bem
Minha mãe é Maria Ninguém
Não sou atriz-modelo-dançarina
Meu buraco é mais em cima

Nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito "home"

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

OLHO NO OLHO - Itamar Assumpção




Por cabo T.V. satélite por rádio via internet
Por modem fio ou telex bom mesmo é o tete à tete
Bilhete carta recado um bip sempre ocupado
Out-door raio fax ligado bom mesmo é rosto colado

Cartão postal é bacana mas bom mesmo é ter você na minha cama
Mensagem não é consolo bom mesmo é ali olho no olho

Tijolinho anúncio pago panfleto retrato falado
Por cupido por duende bom mesmo é bater de frente
No berro pombo correio seja celular ou meio
Painel faixa ou mural bom mesmo é o ato carnal

Cartão postal é bacana mas bom mesmo é ter você na minha cama
Mensagem não é consolo bom mesmo é ali olho no olho

Por tambor telepatia
Por clip telefonia
Poema escrito na roupa
Bom mesmo é boca na boca

Por Pager via Embratel
Pelo vento por passa anel
Por átomos ou carro de bois
Bom mesmo é orgasmo à dois

Cartão postal é bacana mas bom mesmo é ter você na minha cama
Mensagem não é consolo bom mesmo é ali olho no olho

Por cabo T.V. satélite por rádio via internet
Bom mesmo é o tete à tete
Bilhete carta recado um bip sempre ocupado
Bom mesmo é rosto colado

Cartão postal é bacana mas bom mesmo é ter você na minha cama
Mensagem não é consolo bom mesmo é ali olho no olho

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Ferreira Gullar



NO CORPO

De que vale tentar reconstruir com palavras
O que o verão levou
Entre nuvens e risos
Junto com o jornal velho pelos ares

O sonho na boca, o incêndio na cama,
o apelo da noite
Agora são apenas esta
contração (este clarão)
do maxilar dentro do rosto.

A poesia é o presente.


quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Quando - Álvaro de Campos


Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Vanessa da Mata - Boa Sorte/Good Luck



That's it
There is no way
It's over, Good luck

I have nothing left to say
It's only words
And what l feel
Won't change

Everything you want to give me
It too much
It's heavy
There is no peace

All you want from me
Isn't real
Expectations


Now even if you hold yourself
I want you to get cured
From this person
Who poisoned you

There is a disconnection
See through this point of view
There are so many special people in the world
so many special people in the world in the world
All you want
All you want

Everything you want to give me
It's too much
It's heavy
There is no peace

All you want from me
isn't real
Expectations

Now we're Falling into the night

Maria Bethênia/Fauzi Arap

Eu vou te contar que você não me conhece...
E eu tenho que gritar isso, porque você está surdo e não me ouve!

A sedução me escraviza à você.
Ao fim de tudo você permanece comigo, mas preso ao que eu criei...
E não a mim.
E quanto mais falo sobre a verdade inteira, um abismo maior nos separa.

Você não tem um nome.
Eu tenho.
Você é um rosto na multidão e eu sou o centro das atenções.
Mas a mentira da aparência do que eu sou é a mentira da aparência que você é.
Porque eu não sou o meu nome e você não é ninguém.

O jogo perigoso que pratico aqui, ele busca chegar ao limite possível de aproximação, através da aceitação, da distância e do reconhecimento dela.

Entre eu e você existe a notícia que nos separa.
E eu quero que me veja a mim.
Eu me dispo da notícia.
E a minha nudez parada te denuncia e te espelha.
Eu me delato.
Tu me relatas.
Eu nos acuso.
E confesso por nós.
Assim, me livro das palavras...
Com as quais você me veste.