domingo, 26 de outubro de 2008

Dois Olhos Negros - Lenine



Queria ter coragem de saber

O que me prende?

O que me paralisa?

Serão dois olhos

Negros como os teus

Que me farão cruzar a divisa


É como se eu fosse pr'um Vietnã

Lutar por algo que não será meu

A curiosidade de saber

Quem é você?


Dois olhos negros!

Dois olhos negros!


Queria ter coragem de te falar

Mas qual seria o idioma?

Congelado em meu próprio frio

Um pobre coração em chamas


É como se eu fosse um colegial

Diante da equação

O quadro, o giz

A curiosidade do aprendiz

Diante de você


Dois olhos negros!

Dois olhos negros


O ocultismo, o vampirismo

O voodoo

O ritual, a dança da chuva

A ponta do alfinete, o corpo nú

Os vários olhos da Medusa


É como se estivéssemos ali

Durante os séculos fazendo amor

É como se a vida terminasse ali

No fim do corredor


Dois olhos negros!

Dois olhos negros!

Dois olhos negros!

Dois olhos negros!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Provas de Amor - Paulo Miklos



Acabo de te trair
Em pensamento
Não deixo você ouvir
O que te traz sofrimento
Acabo de me trair
O que é que eu estou dizendo ?

Se é amor tem
Desencontros
Amar também
Um contra o outro
E lutar sempre
Por esse amor

Que morre e reascende
Melhor
Existem provas de amor
Provas de amor apenas
Provas de amor
Não existe o amor
Não existe o amor
Não existe o amor não existe
O amor
Apenas provas de amor

Acabo de me separar
Sem fazer alarde
Te ligo quando chegar lá
E te escondo a verdade
Nós vamos nos reconciliar
E você nem sabe
Se é amor tem
Desencontros
Amar também
Um contra o outro
E lutar sempre
Por esse amor
Que morre e reascende
E não tem fim

Combinamos
Destruir mas
Sempre estamos
Enganados
Vendo-o ressurgir
É você que eu amo

Existem provas de amor
Provas de amor apenas
Provas de amor
Não existe o amor
Não existe o amor
Não existe o amor não existe
O amor
Apenas provas de amor

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Um Conto de Fadas Imoral - O Trovador




Ela ouvia aqueles discos velhos da sua infância e bebia um vinho naquela velha casa de madeira. Sua avó já morrera a muito. Alguns vultos passavam pela janela. Olhos grandes. Nariz grande. Boca grande. Vultos vorazes passavam pela janela e Chayenne rememorava sua infância. Não sabia o motivo. Na verdade não sabia sequer por que voltara para essa casa velha caindo aos pedaços. Tudo está empoeirado. Não há energia. Somente uma mesa, algumas camas de palha, uma velha poltrona cheia de traças e um antigo toca discos à manivela que, não se sabe como, ainda funcionava e tocava os velhos e saudosos Long-plays. Isso tudo rememorava sua infância.

Nunca mais fora à casa de sua avó depois do acontecido. Foi para a cidade com seu tio.

Chayenne abriu a mala que havia trago consigo e tirou uma longa capa vermelha que acompanhava um capuz. Era muito parecida com aquela da sua infância, porém ela não sabia o motivo deste sentimento estranho que pairava sobre sua cabeça. Lembrava de várias coisas e se lembrava que algo muito importante acontecera nesse seu passado obscuro, fazendo-a mudar para a cidade, só não sabia o que era. De alguma forma era tudo tão vago, tão distante, tão impossível. As poucas coisas que vinham à cabeça pareciam até conto de fadas. Nada parecia real.

Ela vestiu a sua capa vermelha e começou a andar pelo bosque. Perto dalí alguns lenhadores tiravam o que iria lhes servir.

- Ei! Ei você! Cuidado por onde anda, moça. Ah lobos rondando por aqui! - um dos lenhadores a advertiu.

- Tudo bem! Não se preocupe. Não é proibido cortas essas árvores?

- Er... Sim, mas alguns de nós temos licença para tirar um tanto para o nosso sustento. Aqui ainda não tem energia elétrica então somos obrigados a usar lareiras e fogões à lenha. Aqui não é como a cidade, de onde você parece ter vindo.

Chayenne pediu desculpas e o lenhador tornou a adverti-la sobre os lobos. Chay acenou e se despediu.

Sentia já ter visto essa cena antes. Oh sim! Já vira. Há muito tempo. Quando ela usava uma capa vermelha muito menor do que essa que sua avó havia feito. Como era? Qual era mesmo o nome? Oh sim! Capinha Vermelha... era assim que a chamavam. É mesmo! Lembrava-se enquanto caminhava distraidamente. Até sua mãe a chamava de Capinha.

Para onde ia agora? Dessa vez ela entrava na mata deliberadamente. Sua mãe não a proibia mais de fazer mais nada. Na verdade nem mãe ela tinha mais. Quando fora a última vez que a vira? Oh sim! Foi no caixão. Na verdade depois de ter saído com o tio para a cidade, ela nunca mais viu a mãe. Então num dia qualquer, como esses dias quaisquer em que a única coisa que se faz é trabalhar, seu chefe a chamou dizendo que ela recebera uma ligação importante de seu primo que tinha ido visitar a mãe de Chayenne. Ele trazia notícias. Má notícia. A mãe dela havia morrido.

Agora dois anos após a morte de sua mãe, Capinha retornou a este estranho lugar, onde os fantasmas do seu estranho e fantasioso passado a aguardavam.

E para onde ia? Levar doces para alguém? Sua avó já morrera. Não tinha mais ninguém. Leva uma cesta sim, mas não com doces apenas. As folhas batiam umas nas outras ao soprar do vento deixando a mata ainda mais tenebrosa.

Lembrou-se da adolescência. Tornou-se uma garota libidinosa. Foi pega inúmeras vezes fazendo o que não devia dentro da escola. Levou incontáveis palmatórias. Foi expulsa várias vezes. Sentia-se um lobo faminto. Tirou a virgindade do primo. E do primo do primo. Para ela era tudo uma festa. Até que seu lobo interior adormeceu e junto com ele o seu fogo foi ficando pequeno. Jamais apagou, mas tornou-se, de uma floresta em chamas, uma pequena vela que é colocada ao lado das camas para iluminar a noite quando faltava luz elétrica em casa.

Agora tudo parecia mudar. Sentia seu lobo acordar novamente. Mas parecia que ele tinha saído de dentro dela. Algo muito estranho acontecia. Uma lembrança do passado? Um passado negro? Não sabia.

"Oh Capinha, tira tua roupa e deita-te aqui comigo, sua avózinha"*
"Mas que grandes olhos são esses teus?"
"São para melhor te enxergar"
"E esses braços, também, tão grandes?"
"São para melhor te abraçar"
"E essa tua boca tão grande?"
"É para te comer!"

Ouviu-se um uivo e Chayenne acordou de seus estranhos pesadelos extremamente assustada. Estava encostada numa árvore. Olhou em volta e começou a ver sombras, vultos muito estranhos. Um medo assolava sua mente, mas um calor inebriante aquecia todo o seu corpo. De onde vinha esse calor. Não sabia. Logo ela viu a sombra de um lobo, mas logo essa sombra mostrava algo anormal: o lobo parecia ficar de pé.

O medo de Capinha diminuía pouco a pouco ao mesmo tempo em que o calor aumentava. O lobo pô-se a frente à mulher. Ele ofegava. E logo perguntou aonde ela iria. Capinha fitou o lobo com o mesmo olhar que tinha na adolescência, e então descobriu de onde vinha todo esse seu fogo, abriu um largo sorriso e finalmente respondeu lambendo os lábios:
"Não vou a lugar algum".

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A Primavera - Carlos Lyra




O meu amor sozinho

é assim como um jardim sem flor

Só queria poder ir dizer a ela

Como é triste sentir saudade
É que eu gosto tanto dela
Que é capaz dela gostar de mim

E acontece que eu estou mais longe dela

Que a estrela a reluzir na tarde


Estrela, eu lhe diria

Desce a terra, o amor existe

E a poesia só espera ver

Nascer a primavera

Para não morrer


Não há amor sozinho

É juntinho que ele fica bom

Eu queria dar-me todo o teu carinho

Eu queria ter felicidade


É que o meu amor é tanto

Um encanto que não tem mais fim

No entanto ele nem sabe que isso existe

É tanto triste se sentir saudade


Amor eu lhe direi
Amor que eu tanto procurei
Ah quem me dera
Eu pudesse ser
A tua primavera
E depois morrer


domingo, 12 de outubro de 2008

You Are My Sunshine





You are my sunshine my only sunshine
You make me happy when skies are grey

You'll never know dear how much I love you

Please don't take my sunshine away

The other night dear as I laid sleeping
I dreamed I held you in my arms
When I awoke dear I was mistaken and
I hung my head and cry


I'll always love you and make you happy
if you will only say the same

But if you leave me to love another
you'll regret it all some day




You told me once dear
you really loved me and
no one else could come between

But now you've left me and love another
you have shattered all my dreams


You are my sunshine my only sunshine...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Eu e a vida - Jorge Vercilo



Vem me pedir
além do que eu posso dar
É aí que o aprendizado está
Vem de onde não sonhei
me presentear
Quando chega o fim da linha
e já não há aonde ir
Num passe de mágica
A vida nos traz sonhos pra seguir
Queima meus navios
pr'eu me superar
as vezes pedindo
que ela vem nos dar
o melhor de si

E quando vejo,
a vida espera mais de mim
mais além, mais de mim
O eterno aprendizado é o próprio fim
Já nem sei se tem fim
De elástica, minha alma dá de si
Mais além, mais de mim
Cada ano a vida pede mais de mim
mais de nós, mais além

Vem me privar pra ver
o que vou fazer
Me prepara pro que vai chegar
Vem me desapontar
pra me ver crescer
Eu sonhei viver paixões, glamour
Num filme de chorar
Mas como é Felini, o dia-a-dia
Minha orquestra a ensaiar
Entre decadência e elegância,
zique-zaguear
Hoje, aceito o caos.

E quando vejo,
a vida espera mais de mim
mais além, mais de mim
O eterno aprendizado é o próprio fim
Já nem sei se tem fim
De elástica, minha alma dá de si
Mais além, mais de mim
Cada ano a vida pede mais de mim
mais de nós, mais além

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Samba e Leveza - Lenine



Foi na leveza
Só sentimento
E me entregou suas palavras
Como quem dava um pedaço
Delicadeza foi
Disse ao meu coração
E ela me deu a intenção
Do samba que eu não fiz

Ô, sambá
É o que eu quero sentir
Ô, sambá
Quando eu te ver sorrir
Ô, sambá
Coisa melhor que eu fiz
Mundo caiu no samba
Na hora que eu te vi

Você me batucou
Skindô meu coração
Quando eu te vi
Sambar assim
Aqui neste lugar
Onde este mesmo sol
Costuma aparecer
E a lua vem ouvir
O som estéreo do mar

Ô, sambá
Venha me dar seu amor
Ô, sambá
Que eu sambo aonde for
Ô, sambá
É o tempo certo de ser
E eu sambaria o mundo
Só pra encontrar você

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Mais Que Isso - Ana carolina e Chico César



Eu não vou gostar de você porque sua cara é bonita

O amor é mais que isso

O amor talvez seja uma música que eu gostei e botei numa fita

Eu não vou gostar de você porque você acredita

O amor é mais que isso

O amor talvez seja uma coisa que até nem sei se precisa ser dita

Deixa de tolice, veja que eu estou aqui agora

inteiro, intenso, eterno, pronto pro momento e você cobra

Deixa de bobagem, é claro, certo e belo como eu quero

O corpo, a alma, a calma, o sonho, o gozo, a dor e agora pára

Será que é tão difícil aceitar o amor como é

E deixar que ele vá e nos leve pra todo lugar

Como aqui

Será melhor deixar essa nuvem passar

E você vai saber de onde vim, aonde vou

E que eu estou aqui

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Mistério Escancarado - Juliana Santos


Vê-la praticamente todos os dias...Todos os dias falar com ela...Ter uma amizade estreita de anos, e mesmo assim, não poder dizer:

-Conheço-a muito bem!!!

Ela muda todos os dias, e é a mesma... Nunca será o tipo de mulher a quem se diga
“ Continue sempre assim”...até porque, mesmo que fosse possível ela não quereria...enjoaria de si mesma!

Ao longo da semana pensei em coisas ótimas pra escrever pra ela nesse dia...não pude faze-lo...e aquelas coisas legais que eu pensei, frases bem construídas se perderam na minha mente anuviada...


Resta dizer aquelas coisas que ela já sabe, ou espero que saiba...

Eu a amo muito...de um amor de irmã preferida... Quero tanto bem a ela quanto quero a mim mesma...Espero estar com ela em seus momentos cruciais e poder ser sempre uma boa amiga...tipo casamento...na alegria e na tristeza, sem aquele negócio da morte nos separando...

Posso dizer que praticamente todas as coisas boas que aconteceram comigo recentemente tiveram a ajuda dela...Mais que isso...ela me obriga a fazer o melhor pra mim... Me mostra as coisas mais interessantes... Desperta o gosto por café... Traz novos e deliciosos vícios pra vida diária... Traz os melhores amigos...


Ter lugar VIP no coração dela é uma grande alegria... Tornei-me sócia GOLD e não deixarei de ser jamais...ela tem a minha torcida organizada...Estarei sempre lá balançando os pompons *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/* *\0/*

Vinte e Nove - Renato Russo



Perdi vinte em vinte e nove amizades
Por conta de uma pedra em minhas mãos
Embriaguei morrendo vinte e nove vezes
Estou aprendendo a viver sem você
Já que você não me quer mais
Passei vinte e nove meses num navio
E vinte e nove dias na prisão
E aos vinte e nove com o retorno de saturno
Decidi começar a viver
Quando você deixou de me amar
Aprendi a perdoar e a pedir perdão
E vinte e nove anjos me saudaram
E tive vinte e nove amigos outra vez

01 de outubro de 2008

Tentou fingir que não era com ela. Retardou seu despertar, mas era inútil. Começou a verificação mental diária de seus afazeres. Conferência, garantias, observação rotineira do cumprimento da máxima qualidade no trabalho mecânico ao qual é destinada. Levantou e foi ao espelho, as manchas continuavam em seu rosto.

Vinte e nove anos. Quem diria? Se tivesse sido entrevista há dez anos, com todo entusiasmo que o desconhecimento permite, certamente afirmaria que esse seria um acontecimento feliz. Resolveu não lembrar os objetivos traçados na época, já bastava não se sentir.

“Uma mulher precisa de certas coisas para se reconhecer fêmea” - essas manchas eram desestimulantes. Nada de maquiagem, estava impedida de colocar a máscara social cabível a este dia de suposta comemoração. Nada de roupas exuberantes, precisa cobri-se, para não expor ao sol, nem ao outros as marcas escarlates da sua frustração. Nada de fotos, reuniões e risos. Impossível se animar. Poderia recorrer à fé, se esta já não tivesse se desconectado de sua alma para um passeio, não avisou se voltava.

Não restaram muitas opções, foi encarar o mundo com a parca disposição que tinha. Arriscou manter a esperança na passagem rápida do tempo. “No futuro talvez isso tudo seja apenas uma má recordação” – assim consolou em vão seu coração infeliz enquanto caminhava.