segunda-feira, 30 de julho de 2007

More Than Words - Extreme



Uma pessoa pra lá de especial me lembrou essa música, que amo de paixão e estava tão esquecida num canto da minha alma.

By Rickie...



"Com você meu mundo ficaria completo"

Saudades de quem tá distante...



Ausência

(Vinícius de Moraes)

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Fernando Pessoa



O Amor quer Possuir


O amor pede identidade com diferença, o que é impossível já na lógica, quanto mais no mundo. O amor quer possuir, quer tornar seu o que tem de ficar fora para ele saber que se torna seu e não é. Amar é entregar-se. Quanto maior a entrega, maior o amor. Mas a entrega total entrega também a consciência do outro. O amor maior é por isso a morte, ou o esquecimento, ou a renúncia - os amores todos que são os absurdiandos do amor.

(...) O amor quer a posse, mas não sabe o que é a posse. Se eu não sou meu, como serei teu, ou tu minha? Se não possuo o meu próprio ser, como possuirei um ser alheio? Se sou já diferente daquele de quem sou idêntico, como serei idêntico daquele de quem sou diferente? O amor é um misticismo que quer praticar-se, uma impossibilidade que só é sonhada como devendo ser realizada.

Fernando Pessoa, in 'O Rio da Posse'

Amigos....




Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.
Escolho os meus amigos não pela pele nem outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito ou os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.Deles não quero resposta, quero o meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco!Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.Não quero só o ombro ou colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância e a outra metade velhice.Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto.
E velhos, para que nunca tenham pressa.Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos,
Nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão estéril.

Oscar Wilde

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Protesto!



Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo
 
Um país que crianças elimina
Que não ouve o clamor dos esquecidos
Onde nunca os humildes são ouvidos
E uma elite sem deus é quem domina
Que permite um estupro em cada esquina
E a certeza da dúvida infeliz
Onde quem tem razão baixa a cerviz
E massacram - se o negro e a mulher
Pode ser o país de quem quiser
Mas não é, com certeza, o meu país
 
Um país onde as leis são descartáveis
Por ausência de códigos corretos
Com quarenta milhões de analfabetos
E maior multidão de miseráveis
Um país onde os homens confiáveis
Não têm voz, não têm vez, nem diretriz
Mas corruptos têm voz e vez e bis
E o respaldo de estímulo incomum
Pode ser o país de qualquer um
Mas não é com certeza o meu país
 
Um país que perdeu a identidade
Sepultou o idioma português
Aprendeu a falar pornofonês
Aderindo à global vulgaridade
Um país que não tem capacidade
De saber o que pensa e o que diz
Que não pode esconder a cicatriz
De um povo de bem que vive mal
Pode ser o país do carnaval
Mas não é com certeza o meu país
 
Um país que seus índios discrimina
E as ciências e as artes não respeita
Um país que ainda morre de maleita
Por atraso geral da medicina
Um país onde escola não ensina
E hospital não dispõe de raio - x
Onde a gente dos morros é feliz
Se tem água de chuva e luz do sol
Pode ser o país do futebol
Mas não é com certeza o meu país
 
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo
 
Um país que é doente e não se cura
Quer ficar sempre no terceiro mundo
Que do poço fatal chegou ao fundo
Sem saber emergir da noite escura
Um país que engoliu a compostura
Atendendo a políticos sutis
Que dividem o Brasil em mil Brasis
Pra melhor assaltar de ponta a ponta
Pode ser o país do faz-de-conta
Mas não é com certeza o meu país
 
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

sexta-feira, 13 de julho de 2007

segunda-feira, 9 de julho de 2007

E Quem Disse Que Beleza Não Põe Mesa?!



Quem canta seus males espanta

(Itamar Assumpção)

Entro em transe se canto, desgraça vira encanto
Meu coração bate tanto, sinto tremores no corpo
Direto e reto, suando, gemendo, resfolegando

Eu me transformo em outras, determinados momentos
Cubro com as mãos meu rosto, sozinha no apartamento
Às vezes eu choro tanto, já logo quando levanto
Tem dias fico com medo, invoco tudo que é santo
E clamo em italiano ó Dio come ti amo
Eu me transmuto em outras, determinados momentos
Cubro com as mãos meu rosto, sozinha no apartamento

Vivo voando, voando, não passo de louca mansa
Cheia de tesão por dentro, se rola na face o pranto
Deixo que role e pronto, meus males eu mesma espanto

Eu me transbordo em outras, determinados momentos
Cubro com as mãos meu rosto, sozinha no apartamento

É pelos palcos que vivo, seguindo o meu destino
É tudo desde menina, é muito mais do que isso
É bem maior que aquilo , sereia eis minha sina

Eu me descubro em outras, determinados momentos
Cubro com as mãos meu rosto, sozinha no apartamento

Entro em transe se canto às vezes eu choro tanto
Vivo voando voando é pelos palcos que vivo

sexta-feira, 6 de julho de 2007

♪♪Contramão



Composição: VivianneTosto

A vida inteira eu desejei um beijo seu
Olhos em você, minha solidão
Deixei, por isso, minha boca viajar
Te procurando pela contramão

O que eu sabia é
Que te queria e eu
Conseguia imaginando
Não te resisto, não
Nem te conquisto, então
De castigo vou ficando

Já que eu não beijo sua boca
Beijo então
Seu perfume
Seu cigarro
Já que eu não toco o seu corpo
Toco então
Um violão embriagado
O que eu sabia é
Que te queria e eu
Conseguia imaginando
Não te resisto, não
Nem te conquisto, então
De castigo vou ficando

Boca a boca vai mudando
Essa vontade
Seu exército invadindo
O meu país
Até quando o corpo pede
Essa saudade?
Mesmo a ilusão de amor
Me faz feliz

Que gosto terá,
De orvalho no ar
Tabaco ou saliva?
Se fosse importar
Seu gosto de mar,
Amor ou despedida

Isabella Taviani




Às vezes me dá uma saudade, algumas vezes com uma tristeza, aquela inerente às pessoas que não voltam a trás.

☻☻Saudades de Portugal☻☻


Camilo Pessanha

E Eis Quanto Resta Do Idílio Acabado


E eis quanto resta do idílio acabado,

- Primavera que durou um momento...
Como vão longe as manhãs do convento!
- Do alegre conventinho abandonado...
 
Tudo acabou... Anémonas, hidrângeas,
Silindras, - flores tão nossas amigas!
No claustro agora viçam as urtigas,
Rojam-se cobras pelas velhas lájeas.

Sobre a inscrição do teu nome delido!
- Que os meus olhos mal podem soletrar,
Cansados...E o aroma fenecido
 
Que se evola do teu nome vulgar!
Enobreceu-o a quietação do olvido.
Ó doce, ingénua, inscrição tumular.

Casimiro de Brito

Não Escolho Nada Deixo-me Vestir

Não escolho nada deixo-me vestir
Pela música discreta que tacteia
Meu corpo em sua breve caminhada.

Não desejo nada consinto apenas
Que a dor me visite e a jovem ceifeira,
Mãe das coisas todas, me seduza.

Não escolho nada nem sequer o vaso
Onde me derramo devagar
Como se fosse água, ou leve lume.

Sophia de Mello Breyner

A Hora da Partida

A hora da partida soa quando
Escurecem o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça. 
A hora da partida soa quando
As árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse. 
 
Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida. 

Mário de Sá-Carneiro

VII - Dispersão

Perdi-me dentro de mim 
Porque eu era labirinto 
E hoje, quando me sinto.
É com saudades de mim.
 
Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...
 
Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.
 
(O Domingo de Paris
Lembra-me o desaparecido
Que sentia comovido
Os Domingos de Paris:
 
Porque um domingo é família, 
É bem-estar, é singeleza, 
E os que olham a beleza
Não têm bem-estar nem família).
 
O pobre moço das ânsias... 
Tu, sim, tu eras alguém!
E foi por isso também
Que me abismaste nas ânsias.
 
A grande ave doirada
Bateu asas para os céus,
Mas fechou-as saciada
Ao ver que ganhava os céus.
 
Como se chora um amante, 
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante 
Que se traiu a si mesmo.
 
Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que protejo:
Se me olho a um espelho, erro -
Não me acho no que projeto.
 
Regresso dentro de mim
Mas nada me fala, nada!
Tenho a alma amortalhada,
Sequinha, dentro de mim.
 
Não perdi a minha alma,
Fiquei com ela, perdida.
Assim eu choro, da vida,
A morte da minha alma.
 
Saudosamente recordo
Uma gentil companheira
Que na minha vida inteira
Eu nunca vi... Mas recordo
 
A sua boca doirada
E o seu corpo esmaecido,
Em um hálito perdido
Que vem na tarde doirada.
 
(As minhas grandes saudades 
São do que nunca enlacei. 
Ai, como eu tenho saudades 
Dos sonhos que sonhei!... )
 
E sinto que a minha morte -
Minha dispersão total -
Existe lá longe, ao norte,
Numa grande capital.
 
Vejo o meu último dia
Pintado em rolos de fumo,
E todo azul-de-agonia
Em sombra e além me sumo.
 
Ternura feita saudade,
Eu beijo as minhas mãos brancas...
Sou amor e piedade
Em face dessas mãos brancas...
 
Tristes mãos longas e lindas
Que eram feitas pra se dar...
Ninguém mas quis apertar...
Tristes mãos longas e lindas...
 
Eu tenho pena de mim,
Pobre menino ideal...
Que me faltou afinal?
Um elo? Um rastro?... Ai de mim!...
 
Desceu-me n'alma o crepúsculo;
Eu fui alguém que passou.
Serei, mas já não me sou;
Não vivo, durmo o crepúsculo.
 
Álcool dum sono outonal 
Me penetrou vagamente 
A difundir-me dormente 
Em uma bruma outonal.
 
Perdi a morte e a vida,
E, louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida
Eu sigo-a, mas permaneço...
 
Castelos desmantelados,
Leões alados sem juba...
 
  
Paris - maio de 1913.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Quando A Gente Ama - Oswaldo Montenegro




Hoje eu estou me sentindo assim... apaixonada... não preciso revelar os motivos, só preciso preservar a idéia... tão difícil me entregar a qualquer sentimento que não julgue seguro... uma tola cheia de amarras é isso que sou. ^^

♥ "Ora (direis) ouvir estrelas! " ♥


"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Olavo Bilac ;)

♠♠Cruz e Souza♠♠



Cárcere das Almas

Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa,
soluçando nas trevas, entre as grades
do calabouço olhando imensidades,
mares, estrelas, tardes, natureza.
*
*

Tudo se veste de uma igual grandeza
quando a alma entre grilhões as liberdades
sonha e sonhando, as imortalidades
rasga no etéreo Espaço da Pureza.

*

*

Ó almas presas, mudas e fechadas
nas prisões colossais e abandonadas,
da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

*

*

Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Clarice Lispector

Água Viva (um trecho)

Tenho que interromper para dizer que "X" é o que existe dentro de mim. "X" - eu me banho neste isto. É impronunciável. Tudo que não sei está em "X". A morte? a morte é "X". Mas muita vida também pois a vida é impronunciável. "X" que estremece em mim e tenho medo de seu diapasão: vibra como uma corda de violoncelo, corda tensa que quando é tangida emite eletricidade pura, sem melodia. O instante é impronunciável. Uma sensibilidade outra é que se apercebe de "X".

Espero que você viva "X" para experimentar a espécie de sono criador que se espreguiça através das veias. "X" não é bom nem ruim. Sempre independe. Mas só acontece para o que tem corpo. Embora imaterial, precisa do corpo nosso e do corpo da coisa. Há objetos que são esse mistério total do "X". Como o que vibra mudo. Os instantes são estilhaços de "x" espocando sem parar. O excesso de mim chega a doer.

E quando estou excessiva tenho que dar de mim. Como o leite que se não fluir rebenta o seio. Livro-me da pressão e volto ao tamanho natural. A elasticidade exata. Elasticidade de uma pantera macia.

Uma pantera negra enjaulada. Uma vez olhei bem nos olhos de uma pantera e ela me olhou bem nos meus olhos. Transmutamo-nos. Aquele medo. Saí de lá toda ofuscada por dentro, o "x" inquieto. Tudo se passara atrás do pensamento. Estou com saudade daquele terror que me deu trocar de olhar com a pantera negra. Sei fazer terror.

"X" é o sopro do it? é a sua irradiante respiração fria? "X" é palavra? A palavra apenas se refere a uma coisa e esta é sempre inalcançável por mim. Cada um de nós é um símbolo que lida com símbolos - tudo ponto de apenas referência ao real. Procuramos desesperadamente encontrar uma identidade própria e a identidade do real. E se nos entendemos através do símbolo é porque temos os mesmos símbolos e a mesma experiência da coisa em si: mas a realidade não tem sinônimos.