segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A Carlos Drummond de Andrade...



“Não há guarda-chuva

contra o poema

subindo de regiões onde tudo é surpresa

como uma flor mesmo num canteiro.


Não há guarda-chuva

contra o amor

que mastiga e cospe como qualquer boca,

que tritura como um desastre.


Não há guarda-chuva

contra o tédio:

o tédio das quatro paredes, das quatro

estações, dos quatro pontos cardeais.


Não há guarda-chuva

ontra o mundo

cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.


Não há guarda-chuva
contra o tempo,

rio fluindo sob a casa, correnteza

carregando os dias, os cabelos.”
João Cabral de Melo Neto

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