terça-feira, 22 de maio de 2007

Poética - Manuel Bandeira

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionárioo
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.



Opinião(não tem haver com o poema, mas precisava desabafar):

O que acaba com os relacionamentos atuais, todos, de amizade, romance ou coleguismo, é o individualismo. Simplesmente não nos preocupamos mais com o que é importante para o outro. Não valorizamos as datas de aniversários dos amigos mais próximos, aqueles que sempre estiveram conosco em momentos difíceis, nem mesmo procuramos ser mais afáveis com nossos companheiros. Esquecemos de lutar contra o tédio e a mesmice nos concentrando apenas em nós e nas nossas necessidades.
Mas qual das nossas necessidades não envolve terceiros? Como poderemos crescer profissionalmente sem pelo menos a simpatia de um... seja o chefe ou funcionário? Como vamos evoluir academicamente sem ajuda para resolução das nossas dúvidas? Como podemos nos encontrar alívio para nossa solidão diária sem os sorrisos e afagos dos amigos e namorados? Fica difícil receber “feedbacks” quando não temos nada a oferecer.

2 comentários:

Anônimo disse...

COMO DIZIA NELSOM NED, NINGUÉM PODE DAR AQUILO QUE NÃO TEM, SE NÃO RECEBEMOS É PORQUE NÃO ESTAMOS DANDO, ENFIM SE NÃO OFERECEMOS É PORQUE NÃO TEMOS, E SE ESPERAMOS SOMOS FRUTOS DE UM LIRISMO MAIOR CITADO, POIS DAMOS NA ESPERANÇA DE RECEBER, NINGUÉM É TÃO BOM, E NINGUÉM É TÃO MAL, SOMOS HUMANOS.
SOMOS HIPÓCRITAS DA SÉCULO XXI, APENAS MUDAMOS A DATA E A MANEIRA DE ESCREVER OU CITAR ALGO DE TEXTOS POÉTICOS A NOSSO FAVOR.

Anônimo disse...

Escrita prazeroza aqui, tópicos como aqui vemos emotivam a quem aparecer neste blogue :)
Dá maior quantidade de este blogue, aos teus visitantes.