sexta-feira, 29 de agosto de 2008


Tu és o grande amor


Da minha vida


Pois você é minha querida


E por você eu sinto calor


Aquele seu chaveiro


Escrito "love"


Ainda hoje me comove


Me causando imensa dorDor!...


Eu me lembro


Do dia em que você


Entrou num bode


Quebrou minha vitrola


E minha coleçãoDe Pink Floyd...


Eu sei!


Que eu não vou ficar


Aqui sozinho


Pois eu sei


Que existe um careta


Um careta em meu caminho...


Ah!Nada me interessa


Nesse instante


Nem o Flávio Cavalcanti


Que ao teu lado


Eu curtia na TV, na TV...


Nessa sala hoje


Eu peço arrêgo


Não tenho paz


Nem tenho sossego


Hoje eu vivo somente


A sofrer! A sofrer!...


E até!Até o filmeQue eu vejo em cartaz


Conta nossa história


E por isso, e por issoEu sofro muito mais...


Eu sei!Que dia a diaAumenta o meu desejo


E não tem Pepsi-cola que sacie


A delícia dos teus beijos...


Ah!Quando eu me declarava


Você ria


E no auge da minha agonia


Eu citava Shakespeare...


Não posso sentir


Cheiro de lasanha


Me lembro logo


Das casas da banha


Onde íamos nos divertir


Divertir!...Mas hoje o meu


Sansui-Garrat e Gradiente


Só toca mesmo embalo quente


Prá lembrar do teu calor


Então eu vou ter


Com a moçada lá do Pier


Mas prá eles é careta


Se alguém


Se alguém fala de amor


Ah!...Na Faculdade de Agronomia


Numa aula de energia


Bem em frente ao professor


Eu tive um chilique desgraçado


Eu vi você surgindo ao meu lado


No caderno do colega Nestor


Nestor!...


É por isso, é por isso


Que de agora em diante


Pelos 5 mil auto-falantes


Eu vou mandar berrar


O dia inteiro


Que você é: O MeuMáximo Denominador Comum!...

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Fernando Pessoa - Primeiro Fausto



I
Beber a vida num trago, e nesse trago
Todas as sensações que a vida dá
Em todas as suas formas [...]


Dantes eu queria
Embeber-me nas árvores, nas flores,
Sonhar nas rochas, mares, solidões.
Hoje não, fujo dessa idéia louca:
Tudo o que me aproxima do mistério
Confrange-me de horror. Quero hoje apenas
Sensações, muitas, muitas sensações,
De tudo, de todos neste mundo — humanas,
Não outras de delírios panteístas
Mas sim perpétuos choques de prazer
Mudando sempre,
Guardando forte a personalidade
Para sintetizá-las num sentir.
Quero
Afogar em bulício, em luz, em vozes,
— Tumultuárias [cousas] usuais —
o sentimento da desolação
Que me enche e me avassala.
Folgaria
De encher num dia, [...] num trago,
A medida dos vícios, inda mesmo
Que fosse condenado eternamente —
Loucura! — ao tal inferno,
A um inferno real.


Trecho Inical do Terceiro Tema: A Falência do Amor e do Prazer

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A Bunda - Carlos Drummond de Andrade


A Bunda, que Engraçada

A bunda, que engraçada.

Está sempre sorrindo, nunca é trágica

Não lhe importa o que vaipela frente do corpo.

A bunda basta-se.

Existe algo mais? Talvez os seios.

Ora - murmura a bunda - esses garotos

ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas

em rotundo meneio. Anda por si

na cadência mimosa, no milagre

de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte

por conta própria. E ama.

Na cama agita-se. Montanhas

avolumam-se, descem. Ondas batendo

numa praia infinita. Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz

na carícia de ser e balançar.

Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda,

redunda

terça-feira, 19 de agosto de 2008

No te quiero sino porque te quiero - Pablo Neruda


No te quiero sino porque te quiero

y de quererte a no quererte llego

y de esperarte cuando no te espero

pasa mi corazón del frío al fuego.

Te quiero sólo porque a ti te quiero,

te odio sin fin, y odiándote te ruego,

y la medida de mi amor viajero

es no verte y amarte como un ciego.

Tal vez consumirá la luz de enero,

su rayo cruel, mi corazón entero,

robándome la llave del sosiego.

En esta historia sólo yo me muero

y moriré de amor porque te quiero,

porque te quiero, amor, a sangre y fuego.

sábado, 16 de agosto de 2008

Na Linha do Horizonte - Sérgio Britto


Você vai embora dali
Que eu vou embora daqui
Se aproxima de si
Que eu me aproximo de mim
Você prossegue consigo
Que eu comigo prossigo
Você consegue, eu consigo
Você periga, eu perigo
Não te persigo mais
Não te persigo mais (mas)

Na linha do horizonte a gente pode se cruzar
Ali onde o poente encontra com a beira do mar
Na linha do horizonte a gente pode se cruzar
A gente pode se encontrar, pode se encontrar

sexta-feira, 15 de agosto de 2008





De você sei quase nada

Pra onde vai ou porque veio

Nem mesmo sei


Qual é a parte da tua estrada

No meu caminho


Será um atalho

Ou um desvio

Um rio raso

Um passo em falso


Um prato fundo

Pra toda fome

Que há no mundo


Noite alta que revele

Um passeio pela pele

Dia claro madrugada

De nós dois não sei mais nada


Se tudo passa como se explica

O amor que fica nessa parada

Amor que chega sem dar aviso

Não é preciso saber mais nada

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Por que que a gente é assim? Ney Matogrosso




Mais uma dose?

É claro que eu estou a fim

A noite nunca tem fim

Por que que a gente é assim?


Agora fica comigo

E vê se não desgruda de mim

Vê se ao menos me engole

Mas não me mastiga assim


Canibais de nós mesmos

Antes que a terra nos coma

Cem gramas, sem dramas

Por que que a gente é assim?


Mais uma dose?

É claro que eu tô a fim

A noite nunca tem fim

Baby, por que a gente é assim?


Você tem exatamente

Três mil horas pra parar de me beijar

Hum, meu bem, você tem tudo

Pra me conquistar


Você tem exatamente

Um segundo pra aprender a me amar

Você tem a vida inteira

Pra me devorar

Pra me devorar!


Composição: Frejat, Cazuza e Ezequiel

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Intacto - Jair Oliveira




Não faço pra te aborrecer

Nem eu me entendo direito

Meu jeito não dá pra prever

Às vezes dá defeito


Não tô triste nem tô "deprê"

Apenas estou sossegado

Não há o que esclarecer

Não há nada errado


Às vezes o silêncio tapa os buracos

E o amor prossegue intacto


Já sei o que vai me dizer

"Você é muito enigmático"

Tem toda razão, pode crer

Não sou nada prático


Mas deite aqui perto de mim

Vamos acalmar num abraço

Gostar geralmente é assim

Nunca é sempre fácil


Às vezes o silêncio tapa os buracos

E o amor prossegue intacto

Não Deveria se Chamar Amor - Paulinho Moska

***
O amor que eu te tenho é um afeto tão novo
Que não deveria se chamar amor
De tão irreconhecível, tão desconhecido
Que não deveria se chamar amor
***
Poderia se chamar nuvem
Por que muda de formato a cada instante
Poderia se chamar tempo
Porque parece um filme que nunca assisti antes
***
Poderia se chamar labirinto
Pois sinto que não conseguirei escapulir
Poderia se chamar aurora
Pois vejo um novo dia que está por vir
***
Poderia se chamar abismo
Pois é certo que ele não tem fim
Poderia se chamar horizonte
Que parece linha reta, mas sei que não é assim
***
Poderia se chamar primeiro beijo
Porque não lembro mais do meu passado
Poderia se chamar último adeus
Que meu antigo futuro foi abandonado
***
Poderia se chamar universo
Porque nunca o entenderei por inteiro
Poderia se chamar palavra louca
Que na verdade quer dizer aventureiro
***
Poderia se chamar silêncio
Porque minha dor é calada e meu desejo é mudo
E poderia simplesmente não se chamar
Para não significar nada e dar sentido a tudo



Um horror, grande e mudo, um silêncio profundo
No dia do Pecado amortalhava o mundo.
E Adão, vendo fechar-se a porta do Éden, vendo
Que Eva olhava o deserto e hesitava tremendo,
Disse:
***************************
Chega-te a mim! entra no meu amor,
E e à minha carne entrega a tua carne em flor!
Preme contra o meu peito o teu seio agitado,
E aprende a amar o Amor, renovando o pecado!
Abençôo o teu crime, acolho o teu desgôsto,
Bebo-te, de uma em uma, as lágrimas do rosto!
***********************
Vê tudo nos repele! a tôda a criação
Sacode o mesmo horror e a mesma indignação...
A cólera de Deus torce as árvores, cresta
Como um tufão de fogo o seio da floresta,
Abre a terra em vulcões, encrespa a água dos rios;
As estrêlas estão cheias de calefrios;
Ruge soturno o mar; turva-se hediondo o céu...
**********************
Vamos! que importa Deus? Desata, como um véu,
Sôbre a tua nudez a cabeleira! Vamos!
Arda em chamas o chão; rasguem-te a pele os ramos;
Morda-te o corpo o sol; injuriem-te os ninhos;
Surjam feras a uivar de todos os caminhos;
E, vendo-te a sangrar das urzes através,
Se amaranhem no chão as serpes aos teus pés...
Que importa? o Amor, botão apenas entreaberto,
Ilumina o degrêdo e perfuma o deserto!
Amo-te! sou feliz! porque, do Éden perdido,
Levo tudo, levando o teu corpo querido!
*****************************
Pode, em redor de ti, tudo se aniquilar:
Tudo renascerá cantando ao teu olhar,
Tudo, mares e céus, árvores e montanhas,
Porque a Vida perpétua arde em tuas entranhas!
Rosas te brotarão da bôca, se cantares!
Rios te correrão dos olhos, se chorares!
E se, em tôrno ao teu corpo encantador e nú,
Tudo morrer, que importa? A natureza és tu,
Agora que és mulher, agora que pecaste!
Ah! bendito o momento em que me revelaste
O amor com teu pecado, e a vida com o teu crime!
Porque, livre de Deus, redimido e sublime,
Homem fico na terra, luz dos olhos teus,
Terra, melhor que o Céu! homem maior que Deus!

(Livro: Bilac Tempo e Poesia publicado em 1965)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Trecho do Livro Água Viva - Lispector

Eu, viva e tremeluzente como os instantes, acendo-me e me apago, acendo e apago, acendo e apago. Só que aquilo que capto em mim tem, quando está sendo agora transposto em escrita, o desespero das palavras ocuparem mais instantes que um relance de olhar. Mais que um instante, quero seu fluxo.Nova era, esta minha, e ela me anuncia para já. Tenho coragem? Por enquanto estou tendo: porque venho do sofrido longe, venho do inferno de amor mas agora estou livre de ti. Venho do longe - de uma pesada ancestralidade. Eu que venho da dor de viver. E não a quero mais.
Quero a vibração do alegre. Quero a isenção de Mozart. Mas quero também a inconseqüência. Liberdade? é o meu último refúgio, forcei-me à liberdade e agüento-a não como um dom mas com heroísmo: sou heroicamente livre. E quero o fluxo.
Não é confortável o que te escrevo. Não faço confidências. Antes me metalizo. E não te sou e me sou confortável; minha palavra estala no espaço do dia. O que saberás de mim é a sombra da flecha que se fincou no alvo. Só pegarei inutilmente uma sombra que não ocupa lugar no espaço, e o que apenas importa é o dardo.
Construo algo isento de mim e de ti - eis a minha liberdade que leva à morte. Neste instante-já estou envolvida por um vagueante desejo difuso de maravilhamento e milhares de reflexos do sol na água que corre da bica na relva de um jardim todo maduro de perfumes, jardim e sombras que invento já e agora e que são o meio concreto de falar neste meu instante de vida. Meu estado é o de jardim com água correndo. Descrevendo-o tento misturar palavras para que o tempo se faça. O que te digo deve ser lido rapidamente como quando se olha.