segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Paixão
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Simone de Beauvoir
Quando isso acontece aos outros, parece um acontecimento limitado, fácil de contornar, de ultrapassar. E fica-se absolutamente só, em uma experiência vertiginosa que a imaginação nem sequer pode vislumbrar. (...) Esse leito vazio ao meu lado, essas cobertas lisas e frias... Não adianta tomar soníferos, eu sonho. Freqüentemente, nos sonhos, eu desmaio de tristeza. Fico lá, sob os olhos de Maurice, paralisada, tendo sobre o meu rosto toda a dor do mundo. Espero que ele se precipite para mim. Atira-me um olhar indiferente e se afasta. Acordei. Era ainda noite, eu sentia o peso das trevas, estava num corredor e o adentrava, ele se tornava cada vez mais estreito, eu quase não respirava, breve teria que me arrastar e ali ficaria incrustada até que expirasse. Urrei. E comecei a chamá-lo mais docemente, em lágrimas. Todas as noites eu o chamo: não ele, o outro, aquele que me amava. E me pergunto se não preferiria que estivesse morto. Eu me dizia: a morte é o único mal irreparável. Se ele me deixasse, eu sararia. A morte era horrível por ser possível, a ruptura suportável porque não a imaginava. Mas de fato, eu me digo, se ele estivesse morto, eu saberia ao menos quem perdi e quem eu sou. Não sei mais nada. Minha vida, atrás de mim, está toda destruída, como nesses terremotos em que a terra se devora a si própria: ela se esboroa, às nossas costas, à medida em que fugimos. Não há mais retorno. A casa desapareceu, e a vila e o vale todo. Mesmo que você sobreviva, nada mais resta, nem mesmo o lugar que ocupou sobre a terra.(...)
Por que não mais me ama? É necessário saber por que me amou. Não se faz a pergunta. Mesmo que não se seja nem orgulhosa, nem narcisista, é tão extraordinário ser a gente, justamente a gente, é tão único, que parece natural ser-se único também, para outrem. Ele me amou, é tudo. E para sempre, pois que seria sempre eu. (E eu me espantei, em se tratando de outras mulheres, dessa cegueira. Curioso que não se possa compreender a própria história, senão se auxiliando com a experiência dos outros — que não é a minha, que não me ajuda.).
Fantasmas idiotas. O filme visto quando eu era pequena. A esposa ia encontrar-se com a amante do marido: "Para você ele só é um capricho. Eu o amo!" E a amante, comovida, enviava-a em seu lugar, ao encontro noturno. Na obscuridade, seu marido tomava-a pela outra e de manhã, todo confuso, ele lhe voltava.
Trecho do "A Mulher Desiludida".
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
O Seu Amor - Caetano Veloso
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Lounge - Maria Gadú
Vamos prum lounge
Beber um vinho safra ruim
E conversar sobre a tv
Vamos pra longe
Sem se tocar os olhos vão
Se encontrar e se perder
Eu e você assim de perto dá
Pra eu me perder de vez nas tuas tintas
Me dê uma noite, um pouco da manhã
Só pra eu sacar se os olhos mudam de cor
Vamos entrar
A minha casa não é quente
Trago um vermelho pra esquentar
Vamos suar
Com o veneno da serpente
Que eu roubei pra te picar
Eu e você assim de perto dá
Pra eu me perder de vez nas tuas tintas
Me dê uma noite, um pouco da manhã
Só pra eu sacar se os olhos mudam de cor
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Meninas do Brasil - Fausto Nilo
Três meninas do Brasil, três corações democratas
Tem moderna arquitetura ou simpatia mulata
Como um cinco fosse um trio, como um traço um fino fio
No espaço seresteiro da elétrica cultura
Se a beleza não carece de ambição e escravatura
E a alegria permanece e a mocidade me procura
Liberdade é quando eu rio na vontade do assobio
Faço arte com pandeiro, matemática e loucura
Serenatas do Brasil, eu serei três serenatas
Uma é o coração febril, a outra é o coração de lata
A terceira é quando eu crio na canção um desafio
Entre o abraço do parceiro e um pedaço de amargura
Se eu ganhasse o mundo inteiro, de Amélia a Doralice
De Emília a Carolina, e os mistérios de Clarice
Se teu nome principia, Marina no amor Maria
Só faria melodias com a beleza das meninas
Quando o povo brasileiro viu Irene dar risada
Clementina no terreiro restaurando a batucada
Muito além de um quarto escuro, nos olhos da namorada
Eu sonhava com o futuro das meninas do Brasil
Deus me faça brasileiro, criador e criatura
Um documento da raça pela graça da mistura
Do meu corpo em movimento, as três graças do Brasil
Têm a cor da formosura
sábado, 7 de novembro de 2009
A Tua Boca - Zeca Baleiro
A tua boca
Quando chama a luz do dia
Quando diz que a chama é pouca
Quando ama tão vadia
Se reclama ser tão pouca
A outra boca que esvazia
Quando beija ou abandona
Quando clama entre as chamas
Quando pia entre as ramas
Quando adoça é como ardia
Não é veneno quando mata
Quando salva e quando adia
Quando louca
Não é veneno a tua boca
Quando é coisa de magia
Quando cobra que se enrosca
Quando água que se afoga
Quando forca que alivia.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Saudades de nada, nem de ninguém. Apenas vontade...
Revisando minhas primaveras percebi que passo muito tempo reclamando de saudades. E na verdade, o que eu tenho é vontade. Vontade de acrescentar.
Não fico acalentando os bons acontecimentos do passado durante muito tempo. O que sinto, noventa por cento do meu tempo, é uma necessidade imensa de viver coisas novas com as pessoas antigas. Como também, mostrar coisas antigas a pessoas novas, que estão por aqui a colorir o meu mundo preto e branco.
Interessante como demoramos tanto a saber o que realmente queremos. Foi preciso sentir tanta dor, para saber que metade delas são totalmente desnecessárias. Foi preciso rir tanto risos para saber qual graça realmente me cai bem. E foi preciso 30 anos para que eu pudesse saber que meu destino nunca foi morrer de saudade, e sim, viver todas as alegrias que a vida me apresenta.
É doce constatar que não há vazios, nem fantasmas, nem carência extrema, apenas paixão. Paixão pelo que ainda não foi visto, nem feito, nem vivido. . . vontade no sentido pleno e voraz da palavra.
s. f. 1. Recordação nostálgica e suave de pessoas ou coisas distantes, ou de coisas passadas. 2. Nostalgia.
domingo, 4 de outubro de 2009
Teus Olhos - Marcelo Camelo
Teus olhos abrem pra mim
Todos os encantos
Teus olhos abrem pra mim
Teus olhos abrem pra mim
Todos os encantos bons
Tudo que se quer vai lá
Eu vi na terra
Você chegando assim
Assim, de um jeito tão sereno
Ai, ai, meu Deus do céu
Eu vivo sem pensar
Se sou só
Acho que não vou mais
Agora tudo tanto faz,
meu bem
Eu vi você passar
Levando meu encanto
Caminho sem saber de mim
Eu vivo sem pensar
Se sou só
ou sou mar
Pois enquanto eu não me resolver
Eu vou lá, eu vou lá
Mas enquanto eu não me resolver
Eu vou lá, eu vou lá
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
30 anos
Não tenho 30 anos ( estou a caminho e já vejo a pontinha da montanha no horizonte), como falar desta idade tão especial?
Ora, minha Cândida está fazendo 30 aninhos hoje!!!!! \0/
E embora ela seja uma referência pra mim desde seus 22 anos, ver esta mulher, hoje uma balzaquiana, é uma honra e um prazer!
Minha amada Dandan... Sei que você sabe que a sua felicidade diária é tão importante pra mim quanto a minha...
E todo amor que dentro de mim pode haver hoje emana em sua direção com os mais fortes desejos de alegria, saúde e realizações!!!
Vamos comemorar até o fim do ano!!!!!!
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Felicidade - Luiz Tatit
Não sei porque eu tô tão feliz
Não há motivo algum pra ter tanta felicidade
Não sei o que que foi que eu fiz
Se eu fui perdendo o senso de realidade
Um sentimento indefinido
Foi me tomando ao cair da tarde
Infelizmente era felicidade
Claro que é muito gostoso
Claro que eu não acredito
Felicidade assim sem mais nem menos é muito esquisito
Não sei porque eu tô tão feliz
Preciso refletir um pouco e sair do barato
Não posso continuar assim feliz
Como se fosse um sentimento inato
Sem ter o menor motivo
Sem uma razão de fato
Ser feliz assim é meio chato
E as coisas nem vão muito bem
Perdi o dinheiro que eu tinha guardado
E pra completar depois disso
Eu fui despedido e estou desempregado
Amor que sempre foi meu forte
Não tenho tido muita sorte
Estou sozinho, sem saída, sem dinheiro e sem comida
E feliz da vida!!!
Não sei porque eu tô tão feliz
Vai ver que é pra esconder no fundo uma infelicidade
Pensei que fosse por aí, fiz todas terapias que tem na cidade
A conclusão veio depressa e sem nenhuma novidade
O meu problema era felicidade
Não fiquei desesperado, não, fui até bem razoável
Felicidade quando é no começo ainda é controlável
Não sei o que foi que eu fiz
Pra merecer estar radiante de felicidade
Mais fácil ver o que não fiz
Fiz muito pouca aqui pra minha idade
Não me dediquei a nada
Tudo eu fiz pela metade, porque então tanta felicidade
E dizem que eu só penso em mim, que sou muito centrado
Que eu sou egoísta
Tem gente que põe meus defeitos em ordem alfabética
E faz uma lista
Por isso não se justifica tanto privilégio de felicidade
Independente dos deslizes dentre todos os felizes
Sou o mais feliz
Não sei porque eu tô tão feliz
E já nem sei se é necessário ter um bom motivo
A busca de uma razão me deu dor de cabeça, acabou comigo
Enfim, eu já tentei de tudo, enfim eu quis ser conseqüente
Mas desisti, vou ser feliz pra sempre
Peço a todos com licença, vamos liberar o pedaço
Felicidade assim desse tamanho
Só com muito espaço!
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
O Charme Das Canções (uis e Ais) - Geraldo Azevedo
São suas frases banais
São seus ais, seus uis e ão
Coisa de fazer sorrir
A triste noiva do faquir
Coisa de fazer sonhar
A moça do nono andar
Coisa de fazer parar
O chofer do caminhão
São seus ão meus ais e uis
Coisa de fazer chorar
A natureza morta
O charme das canções
São eu te amo
Tua traição teus punhais
E ai, Jesus, são seus uis
Meus ão e ais
São Jamais, jasmins ou nunca
São nunca mais ou querer teus beijos
Ou serão teus beijos, sempre
E sempre mais
São seus ais, seus uis e ao
Coisas que entortam
Um certo coração
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Desses Sambas que fazem parte de mim...
A alegria que me deu
Quando a porta abriu
Você me olhou, você sorriu
Ah, você se derreteu e se atirou
Me envolveu, me brincou
Conferiu o que era seu
É verdade, eu reconheço, eu tantas fiz
Mas agora, tanto faz
O perdão pediu seu preço, o meu amor
Eu te amo e Deus é mais...
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Sereníssima - Legião Urbana
Sou um animal sentimental
Me apego facilmente ao que desperta meu desejo
Tente me obrigar a fazer o que não quero
E você vai logo ver o que acontece.
Acho que entendo o que você quis me dizer
Mas existem outras coisas.
Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade,
Tudo está perdido mas existem possibilidades.
Tínhamos a idéia, mas você mudou os planos
Tínhamos um plano, você mudou de idéia
Já passou, já passou - quem sabe outro dia.
Antes eu sonhava, agora já não durmo
Quando foi que competimos pela primeira vez?
O que ninguém percebe é o que todo mundo sabe
Não entendo terrorismo, falávamos de amizade.
Não estou mais interessado no que sinto
Não acredito em nada além do que duvido
Você espera respostas que eu não tenho mas
Não vou brigar por causa disso
Até penso duas vezes se você quiser ficar.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Espaço para o humor
Todos os créditos ao trabalho de André Dahmer, o Autor.
Bilhetinho de despedida
Preciso entender e você também. Nesse momento não cabemos mais nas nossas vidas. A cada encontro casual, a cada conversa despretensiosa, você faz ou diz algo que me entristece. E nem é que eu não te ame mais, nem é para deixar de te amar. Por que sei que o que realmente importa estará preservado para sempre. Simplesmente estamos vibrando fora do ritmo. Eu precisava te falar como me sinto, sem te dizer nada. Acho que não precisamos de muitas explicações. Nem acho que você deveria me perguntar nada. Nem mesmo se questionar sobre nada. Apenas deixe... deixe que eu pare de me incomodar com tudo e volte ao nosso ritmo normal.
Overjoyed - Stevie Wonder
Over time
I've been building my castle of love
Just for two
Though you never knew you were my reason
I''ve gone much too far
For you now to say
That I've got to throw
My castle away
Over dreams
I have picked out a perfect come true
Though you never knew it was of you I've been dreaming
The sand man has come
From too far away
For you to say come
Back some other day
And though you don't believe that they do
They do come true
For did my dreams
Come true when I looked at you
And maybe too if you would believe
You too might be
Overjoyed
Over love
Over me
Over hearts
I have painfully turned every stone
Just to find
I have found what I've
searched to discover
I come much too far
For me now to find
The love that I sought
Can never be mine
And though you don't believe that they do
They do come true
For did my dreams
Come true when I looked at you
And maybe too if you would believe
You too might be
Overjoyed
Over love
Over me
And though the odds say improbable
What do they know
For in romance
All true love needs is a chance
And maybe with a chance you will find
You too like I
Overjoyed
Over love
Over you
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
As Cinco Coisas...
Ganhei a indicação do fofo do Danilo, mento do blog Eu sou a mente fervorosa. Respeitando a idéia:
1- Não ter estudado mais para ser Engenheira Mecatrônica (era meu sonho aos 17 anos, mas do que sabem meninas de 17 anos? ^^);
2- Ter aceitado trabalhar mais de 12 horas por dia de bom grado (começou em 2005 e me persegue até hoje :p);
3- Do beijos que Não deixei de roubar (alguns beijos roubado me deram muito trabalho, isso por que sempre fui muito impulsiva);
4 - Dos desaforos que disse a meu pai (foram poucos, deveria ter dito muito mais);
5 - Das cartas que não remeti em todos essas anos de existência na terra (um dia eu mando todas);
Eu não gosto de ser cativa do arrependimento. Mesmo me magoando muitas vezes, uma explosão de lamentação basta. A vida é curta demais para passar o tempo regando amarguras. Tropeça, caí chora, levanta para cair de novo até aprender a andar direito... =p
Mais Alguém - Roberta Sá
Mas por aqui já deu pra ver
Mesmo espalhados ao redor
Meus passos seguem um rumo só.
E num hotel lá no Japão
Vi o amor vencer o tédio
Por isso a hora é de vibrar
Mais um romance tem remédio
Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha
Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha.
O amor é um descanso
Quando a gente quer ir lá
Não há perigo no mundo
Que te impeça de chegar.
Caminhando sem receio
Vou brincar no seu jardim
De virada desço o queixo
E rio amarelo.
Agora é hora de vibrar
Mais um romance tem remédio
Vou viajar lá longe tem
O coração de mais alguém.
Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha
Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
... apenas um desabafo.
Hoje eu tive um vislumbre do meu futuro: 45 anos, com um salário razoável, solteira, consumidora de toda sorte de psicotrópicos para dá apoio a idéia de que todas as minhas escolhas foram corretas.
Em uma das comunidades que participo no Orkut existe um tópico para fazermos resumo da nossa biografia, do qual nunca tive coragem de participar pela certeza de que todas as mudanças na minha vida foram movidas pela revolta... e nada de revolta altruísta daquela que salva nações do cárcere do governo opressor ou milhares de crianças do trabalho escravo. A minha revolta era por puro individualismo, opção pela sobrevivência. Luta para me livrar dos problemas causados pelas opções erradas dos outros para minha vida e depois das minhas próprias. O que, decididamente, me tornou má companhia. Má companhia não no sentido de pessoa desagradável, mas no sentido de condutora ao mau caminho. Aliás, eu odeio esse conceito social de bom caminho, bom comportamento, resignação que na maioria das vezes só encaminham as pessoas ao preconceito, sectarismo e frustração.
E por falar em frustração, estou com raiva. Estou com raiva por que não tem na minha proximidade nenhum exemplo feminino para me orgulhar nesse momento, muito menos no espelho. Minha empatia encontra-se anulada. Eu admito que as pessoas errem. É para isso que estamos na vida, para quebrar a cara. Eu só não compreendo quando você vive mais de uma vez, mais de três vezes, inumeráveis vezes, o mesmo erro. Uma pessoa que falhou com você num ponto, ela falhará inúmeras vezes naquele mesmo ponto.
Você pode me chamar de radical, só que a minha história nunca me mostrou nada que me dissuadisse dessa negra opinião. E nesse momento ver alguém tão próxima a mim cair no mesmo golpe, só me deixa com raiva da vítima, não do golpista.
E ontem mesmo eu estava conversando sobre estelionatos. Fica aquela sensação que a vida é como um filme. . . no momento a minha parece um filme do Almodóvar. Com caricaturas da realidade baseado em fatos estapafúrdios.
Talvez você não tenha entendido nada, talvez nem seja para entender... isso é apenas um desabafo.
A Agulha e a Linha - Machado de Assis
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Alicia Keys - Fallin'
In and out of love
With you
Sometimes I love ya
Sometimes you make me blue
Sometimes I feel good
At times I feel used
Loving you darling
Makes me so confused
I keep on falling
In and out of love with you
I never loved someone
The way that I love you
Oh, oh , I never felt this way
How do you give me so much pleasure?
And 'cause me so much pain
Just when I think
I've taken more than would a fool
I start falling back in love with you
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Viviane Mosé
quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele soprando sulcos?
o tempo andou riscando meu rosto
sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma
(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)
acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim
e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás
um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos
acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Autopsicografia - Fernando Pessoa
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Eu tenho um problema...
Tem pedaços de você espalhados por todos os cantos da minha vida.
É como se meu corpo tivesse absorvido pedaços da sua alma fragmentada.
Agora não posso me quedar desprevenida
que sou surpreendida por coisas que estão dentro de mim,
me constituem,
mas são suas.
Aquela música,
aquele texto,
aquela foto,
aquela carta,
aquela vontade de saber,
de sentir,
de olhar bem de perto.
Não sei deixar as pessoas passarem
sem capturar delas algo que me faça melhor.
sábado, 1 de agosto de 2009
Sobre verduras e legumes...
- Menina, eu adoro brócolis!
- Por quê? Eu acho tão normal, sem muito gosto.
- Pois eu acho uma delícia. Nem imaginava que algo com essa aparência fosse tão gostoso.
- Ahhhhh, eu acho que você sente pelo brócolis o que eu sinto pela acelga.
- Pode ser... você gosta?
- Adoro! Acelga picadinha na salada... hummm, que delícia!
- É mesmo. Muito diferente do chuchu. Pra que chuchu serve mesmo? Não é bonito, nem é gostoso.
- Só serve pra a pressão, mais nada.
- Ah, vocês estão falando sobre o repolho, neh? É, também gosto.
- Não, criatura, é sobre o brócolis e a acelga...
- Ah, eu gosto mesmo é de cenoura. Aqueles pedacinhos de Cenoura crua...
- Ah, não. Cenoura só ralada. Agora, se for no suco com beterraba... aí sim.
- Eca! Vocês gostam disso mesmo?
- Menina! Pela manhã aquele suco de beterraba com cenoura e laranja, geladinho...
- E picles?
- Sim, sim, picles! Picles de tudo, nessa vida.
- Menina! E o pepino? O pepino sim é útil e gostoso...
- hahahahaha hahahahaha hahahaha hahahahahaha
Diálogo customizado de uma conversa produtiva entre quatro amigas, no dia 24/07/2009, no Burburinho, entre cervejas, caipirinhas, caipiroscas, pasteis e um prato de filé com brócolis ^^ - Carolzita Gatona, Saration Pop Star, Ju Ama Picles Dolores e Chay Adoradora de Pepinos ;}
Maçã do Rosto - Djavan
Não faça isso nao, não, não, não, não.
Esse seu chamego é bom demais para o meu coração.
Me ame devagarinho
Sem fazer nenhum esforço
Tô doido por seu carinho
Pra sentir aquele gosto
Que você tem na maçã do rosto
Que você tem na maça do seu rosto
Me ame devagarinho
Sem fazer nenhum esforço
Tô doido por seu carinho
Pra sentir aquele gosto
Que você tem na maça do rosto
Que você tem na maça do seu rosto
Vem morrer nesse beijo que eu vou te dar
Por você meu desejo aumentou e pode me matar
Vem morrer nesse beijo que eu vou te dar
terça-feira, 28 de julho de 2009
Aberto - Zélia Duncan
Apesar dos outros,
Apesar dos medos,
Apesar dos monstros nos meus pesadelos
Vou tentar manter o coração aberto pra você,
Apesar dos trincos,
Apesar dos trancos,
Apesar dos dias repetidos que são tantos.
Eu vou tentar manter o coração aberto pra vc.
Apesar da chuva,
Apesar da rua,
Apesar da hora,
Apesar dos pesares, das canções, dos lugares,
Apesar dos meus pensamentos, dos perigos, dos próximos momentos.
Eu de coração aberto pra você,
de coração aberto pra você.
sábado, 25 de julho de 2009
Tendo a Lua - Herbert Vianna
Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias gente que foi embora.
A casa fica bem melhor assim
O céu de ícaro tem mais poesia que o de galileu
E lendo teus bilhetes, eu penso no que fiz
Querendo ver o mais distante e sem saber voar
Desprezando as asas que você me deu
Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua
Merecia a visita não de militares,
Mas de bailarinos
E de você e eu.
Eu hoje joguei tanta coisa fora
E lendo teus bilhetes, eu penso no que fiz
Cartas e fotografias gente que foi embora.
A casa fica bem melhor assim
Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua
Merecia a visita não de militares,
Mas de bailarinos
E de você e eu.
Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua
Merecia a visita não de militares,
Mas de bailarinos
E de você e eu.